quinta-feira, 4 de abril de 2013

Nosso Banner


Percurso Metodológico


Percurso Metodológico



Numa primeira etapa, procuramos em conjunto pensar em um tema ligado ao eixo Ciência, Tecnologia e Inovação, mas que pudesse nos proporcionar um estudo que relacionasse e nos mostrasse  a proximidade do eixo a sociedade. Por estarmos inseridos na comunidade acadêmica, entendemos que seria interessante refletir sobre nosso papel dentro do eixo escolhido, então pensamos em estudar alguma forma de contribuição das universidades para Ciência, Tecnologia e Inovação.
Ainda nessa primeira etapa, passamos a buscar material bibliográfico que nos pudesse orientar a respeito do tema escolhido, inicialmente via Internet. As respostas eram diversas, mas em geral, apontavam para a Universidade como produtora de conhecimento científico e relacionavam o processo de inovação ao Governo e às Empresas. A frequência desses três atores sociais (Governo, Empresa e Universidade) nas respostas encontradas durante a busca bibliográfica, nos fez atentar para esta relação e percebemos o quanto ela era importante no processo de inovação.
Direcionamos nesse momento nossas leituras para a Teoria da Hélice Tríplice que delineava essa relação entre Governo, Empresas e Universidade no processo de Inovação, apontando o papel de cada um dos atores e suas formas de se relacionar entre si. Outras temáticas subjacentes foram surgindo no decorrer das leituras sobre Hélice Tríplice. Era preciso, por exemplo, traçar um perfil da sociedade contemporânea para entender melhor o cenário onde acontecem as relações entre os atores dessa teoria. Era preciso também entender o enfraquecimento do Estado enquanto provedor exclusivo do desenvolvimento da Ciência e Tecnologia, para compreender o deslocamento do foco para as Empresas.
Direcionamos então a definição do nosso tema para a Relação entre Universidade e Empresa, pois a consideramos importante no processo atual da inovação tecnológica. A empresa como ator mais próximo às demandas do mercado e a universidade como produtora de conhecimento.
Com o tema um pouco mais fechado, pensamos o que exatamente estudar nessa relação e inicialmente optamos pelo estudo dos financiamentos da pesquisa acadêmica pela iniciativa privada. Algumas questões foram elaboradas nesse momento:
ü  Qual o papel da Universidade na sociedade contemporânea?
ü  Que importância tem essa relação Universidade – Empresa para cada um desses atores individualmente?
ü  Que benefícios a sociedade tem nessa relação?
ü  Haveria algum comprometimento da liberdade de produção acadêmica ao se vincular a financiamentos da iniciativa privada?
Essas perguntas norteariam nosso estudo.
Partimos para uma segunda etapa que seria definir um estudo de caso para ilustrar as teorias até aqui contempladas e inicialmente foi trabalhado o Financiamento da Pesquisa Acadêmica na UFABC a partir de dados disponíveis na Divisão de Convênios da Instituição. A tentativa se mostrou improdutiva por vários motivos: os dados disponíveis não nos permitiam perceber com clareza os possíveis resultados das pesquisas; alguns valores de financiamento eram imprecisos; entre outras situações que nos impediriam de apresentar um resultado satisfatório e conclusivo. Apenas seriamos capazes de perceber os benefícios obtidos pela universidade (aumento da verba direcionada a pesquisa e consequente aumento do número de pesquisas). Não seríamos precisos na definição objetiva de benefícios alcançados pelas empresas financiadoras nem pela sociedade local, a partir dos dados disponíveis.
Desistimos de continuar a análise a partir de um estudo de caso dos financiamentos na pesquisa acadêmica da UFABC e partimos para definição de um novo estudo, que pudesse manter a teoria pesquisada até o momento. Definiu-se pelo estudo da Relação Universidade – Empresa a partir das Incubadoras de Empresas e observou-se que esse novo estudo de caso nos aproximaria do estudo que queríamos: uma Universidade mais envolvida com o desenvolvimento da Nação.
Passamos a uma terceira etapa, constituída de nova pesquisa sobre Incubadoras de Empresas e também pela definição de um novo estudo de caso passando por exemplo a CDT - Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília (UnB), e o CENTEV (Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa), optando pelo segundo caso por nos parecer a mais bem sucedido e mais completo em termos de informações técnicas.
Observamos as diversas informações disponíveis no sitio da Universidade Federal de Viçosa e fizemos alguns contatos via telefone para alguns esclarecimentos, até que consideramos satisfatórias as informações coletadas.
Nesta ultima etapa, nos reunimos para juntar as informações coletadas e montar um roteiro final para confecção de um pôster a ser apresentado com os resultados do estudo. Houve certa dificuldade em escolher o que dentre tanta informação iria compor a apresentação final, optando-se como mais relevante, trazer como informações: a referência ao contexto social dessa Relação Universidade-Empresa; a Teoria da Hélice Tríplice e sua evolução até os dias atuais; o conceito de Incubadora de Empresa; o caso do CENTEV como ilustração; e por fim, as conclusões elaboradas pós estudos.

Inovação na Era do Conhecimento


   Inovação na  Era do Conhecimento


Cristina Lemos


  Vivemos na Era do Conehcimento, tudo se movimenta e muda de forma rápida e acentuada. Os mercados as tecnologias, as formas organizacionais  e acima de tudo isso a capacidade de gerar e absorver inovações é fundamental para  se tornar competitivo e conquistar o mercado de trabalho.
      É notável porem que apesar de o processo de globalização e disseminação de tecnologias permitirem a fácil transferência de  informações e conhecimento, os conhecimentos realmente fundamentais, os que estão profundamente enraizados em pessoas, organizações e locais específicos não são facilmente adquiridos(e transferidos) e somente quem possui esse tipo de conhecimento é capaz de se adaptar as mudas nos mercados e inovar.

Segundo Lemos, existem dois tipos de inovação : a radical e a incremental. Pode-se entender a inovação radical como o desenvolvimento e introdução de um novo produto, processo ou forma de organização da produção inteiramente nova. Esse tipo de inovação pode representar uma ruptura estrutural com o padrão tecnológico anterior, originando novas indústrias, setores e mercados. Também significam redução de custos e aumento de qualidade em produtos já existentes.  Já as de caráter incremental, refere-se à introdução de qualquer tipo de melhoria em um produto, processo ou organização da produção dentro de uma empresa, sem alteração na estrutura industrial (Freeman, 1988).
     Seguindo a abordagem neo-schumpeteriana que aponta para uma estreita relação entre o
crescimento econômico e as mudanças que ocorrem com a introdução e disseminação de inovações tecnológicas e organizacionais. Entendemos que os avanços resultantes de processos inovativos são fator básico para na formação dos padrões de transformação da economia, bem como seu desenvolvimento a longo prazo. E deve ser visto como um processo descontinuo e irregular, ou seja, não linear.        
    A definicao mais comum de inovação(Dossi,1988) é a busca, descoberta, experimentação , desenvolvimento , imitação e adoção de novos produtos, processos e novas técnicas organizacionais. Assim, é necessário considerar que uma empresa não inova sozinha, pois as fontes de informações, conhecimentos e inovação podem se localizar tanto dentro, como fora dela. O processo de inovação é, portanto,um processo interativo, realizado com a contribuição de variados agentes econômicos e sociais que possuem diferentes tipos de informações e conhecimentos.
     Por ser um  processo interativo, a inovação  depende das características  de cada agente. Adotando o conceito desenvolvido por Lundvall(1992), onde nos sistemas nacionais de inovação, considera -se que os agentes econômicos e sociais e a relação entre eles é que determina a capacidade de aprendizado de um pais. Os sistemas nacionais, regionais ou locais de inovação podem ser tratados, como uma rede de instituições dos setores público
(instituições de pesquisa e universidades, agências governamentais de fomento e financiamento, empresas públicas e estatais, entre outros) e privado (como empresas, associações empresariais, sindicatos, organizações não-governamentais etc.) cujas atividades e interações geram, adotam, importam, modificam e difundem novas tecnologias, sendo a inovação e o aprendizado seus aspectos cruciais.
     Assim, observam-se novas formas de entender políticas científicas, tecnológicas e industriais como fazendo parte de um mesmo conjunto, que tende a privilegiar o desenvolvimento, disseminação e uso de novos produtos, serviços e processos.  


Incubadoras

Incubadoras de empresas


     As incubadoras de empresas têm se espalhado por todo o mundo, cada vez mais eficazes em sua missão de oferecer suporte às empresas, auxiliando o seu crescimento e desenvolvimento. Além de fortalecer as empresas na fase inicial da criação, também as prepara para competir no mercado de trabalho. No Brasil e em outros países, o índice de falência de empresas que passaram por uma incubação baixou de 70% para 20%. O que demonstra que a incubação está cada vez mais ganhando espaço e reconhecimento ao aumentar as chances de sucesso de muitas empresas, selecionando projetos e empreendedores mais capacitados para desenvolver as atividades necessárias que ampliem o crescimento das empresas. “As incubadoras podem entregar ao mercado, empreendedores com os elementos críticos essenciais para o crescimento de suas empresas na velocidade da ‘Internet’ como é necessário nos dias de hoje. Além disso, as incubadoras permitem acelerar o processo de desenvolvimento empresarial assegurando uma taxa de sucesso de negócios bem acima das taxas comuns de insucessos”, BERMÚDEZ, Luís Afonso.
      Para tanto, podemos focar no trabalho das incubadoras relacionado às instituições de ensino, como universidades, onde as próprias universidades servem como “incubadoras” quase que no sentido literal do termo, fornecendo uma preparação para o futuro e desenvolvimento da empresa naquilo em que esta praticamente não conseguiria fazer sozinha com tanta eficácia. Deste modo, surgem muitas facilidades, comodisponibilizar espaço físico e alojar as empresas e serviços como salas de reunião, informática e etc.; oferecer financiamentos necessários; dar assessoria à gestão técnica e empresarial; dar acompanhamento e auxílio de profissionais capacitados e especializados das universidades.
Segundo a Anprotec (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologia Avançada), “existem hoje 384 incubadoras em atividade com mais de 6 mil empresas vinculadas”.
     É importante notar que a participação dos governos no incentivo às empresas de base tecnológica tem sido fundamental, assim como no caso dos parques tecnológicos, direcionando os esforços de pesquisa para setores considerados prioritários, como ocorreu nos Estados Unidos (Medeiros et al., 1992), no Japão (Tanabe, 1995), na França, no Canadá, na Alemanha, na Itália, na Inglaterra, mais recentemente em Israel (Khavul et al., 1998) e em países em desenvolvimento como a China e o México (Lalkaka & Bishop, 1996)”,DORNELAS, José.
    Podemos citar, de acordo a BERMÚDEZ: “O Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT) é uma unidade da Universidade de Brasília, vinculado ao Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação e à Reitoria, que tem como objetivo promover a interação entre a oferta e a demanda de conhecimentos científicos e tecnológicos, informação e a prestação de serviços especializados para a sociedade em geral”.
    Criado em 1986, O CDT/UnB promove o desenvolvimento tecnológico integrando a Universidade, empresas e sociedade na sua vocação local para fortalecer a região, não só social, mas economicamente. “O impacto de uma incubadora de empresas em uma comunidade é evidente, pois graças às empresas incubadas há geração de empregos, aumento da arrecadação de impostos, aumento da venda dos produtos da região para outras regiões ou países etc. (Duff, 1999). Todavia, deve haver formas quantitativas de se medir o desempenho de uma incubadora para que seu desenvolvimento ocorra de maneira adequada e com finalidades claramente definidas”, DORNELAS.
     Para BERMÚDEZ,“O CDT/UnB pode ser considerado um dos pioneiros no País a implementar este tipo de iniciativa”(regional), já que visa “desenvolver mecanismos de cooperação entre empresas e instituições de P&D”(Pesquisa e Desenvolvimento). E a partir disso, já tem trabalhos divulgados como “pesquisas desenvolvidas nos mais de 60 Institutos, Faculdades e Departamentos da UnB, projetando o nome da Universidade, promovendo as empresas da Incubadora e difundindo os métodos de cooperação adotados entre a Universidade, os setores empresarial e governamental”, o que beneficia a todos os envolvidos neste processo de incubação, além de toda a região onde estes se instalaram.              Assim, vemos que, com as incubadoras, cada vez mais crescerá a inovação tecnológica no país, e com resultados iniciais tão representativos, o investimento nesse tipo de trabalho só tem a beneficiar o Brasil e todos os outros países que investirem nesse desenvolvimento.


Bibliografia:

*http://www.marcionami.adm.br/pdf/empreendedorismo_governamental_2010/parcerias_estrategicas_08.pdf#page=31;
* http://www.josedornelas.com.br/wp-content/uploads/2010/01/planejando_incubadoras.pdf;
* http://www.brasil.gov.br/empreendedor/primeiros-passos.

domingo, 24 de março de 2013

Sociedade do Conhecimento


Sociedade do Conhecimento: resumo teórico.

     Neste resumo procuramos apresentar um apanhado de abordagens teóricas acerca da transformação de um paradigma de uma “sociedade industrial” para uma “sociedade do conhecimento” que posteriormente auxiliará no entendimento do cenário social para o estudo das relações entre empresa e universidades no processo de inovação tecnológica.
     O nosso mundo está em processo de transformação estrutural há algumas décadas, vivendo um processo multidimensional que está associado à emergência de um novo paradigma tecnológico, baseado nas tecnologias de comunicação e informação, que começaram a tomar forma em meados dos anos de 1960 e que se difundiram de forma desigual por todo o mundo. Lembramos que segundo Pierre Lévy, a tecnologia não determina a sociedade: ela mesma se determina. A sociedade é que dá forma a tecnologia de acordo com suas necessidades, valores e interesses das pessoas que utilizam as técnicas. Mas é inegável que esse novo paradigma tecnológico, está condicionando as relações que temos com os diversos atores sociais, bem como dando novo ritmo à competição que existe nos mercados entre empresas e entre nações.
     Não vamos aqui traçar uma definição rígida sobre “sociedade do conhecimento”, mas seguiremos uma noção importante para seu entendimento baseada nos estudos de BERNHEIM & CHAUÍ (2003) onde apontam que nesta sociedade o conhecimento assume papel central nos processos de produção, em contrapartida a “sociedade industrial” onde para CASTELLS (1999) a energia (elétrica, térmica, etc.) eram essenciais na difusão das formas organizacionais dessa sociedade. Dessa forma, estamos assistindo a emergência de um novo paradigma econômico e produtivo no qual o fator mais importante deixa de ser a disponibilidade de capital, trabalho e matérias-primas ou energia, passando a se o uso intensivo de conhecimento e informação.
     Para CAVALCANTI (1999), é um processo que vem de longos tempos. O primeiro economista a definir os fatores clássicos de produção como terra, capital e trabalho foi Jean Baptisti Say(1767-1832) que foi seguido em trabalhos posteriores por Adam Smitn. Esta classificação teve um profundo impacto no processo de desenvolvimento da economia enquanto ciência e guiou e continua guiando gerações de economistas, como é verificado que ainda hoje há textos que usam destes conceitos, baseados em processos produtivos e estruturas de classe do século XVIII.
     Fazendo um breve comparativo entre momentos distintos da história sob um viés econômico temos que nas economias de natureza agrícola, a terra e a mão-de-obra eram os fatores críticos para determinar o sucesso econômico. O capital e a tecnologia (o arado, por exemplo) eram importantes, mas a comunidade agrícola podia subsistir com o mínimo desses fatores, porém, sem terra e mão-de-obra era quase impossível. Com a revolução industrial, a tecnologia ganha importância, mas o capital e o trabalho passam a ser forças motrizes do desenvolvimento econômico. Com o surgimento da sociedade do conhecimento, os modelos econômicos que vão reger esta nova realidade precisam
ser revistos no sentido de incorporar o conhecimento não apenas como mais um fator de produção, mas como fator essencial ao processo de geração de riqueza.
     Não se trata de afirma que os fatores clássicos de produção não têm mais importância, mas que se tornaram secundários a medida que podem ser obtidos com algum facilidade desde que tenhamos conhecimento e que por outro lado, ter os fatores básicos de produção sem uma boa gestão de conhecimento pode levar a ineficiência. O conhecimento se torna então novo fator de produção.
Essa nova economia não se refere apenas às indústrias de software, computação ou biotecnologias, ou ainda a Internet como podemos ser levados a pensar. Os diversos autores sobre o tema fala que vai além, falam de vantagens competitivas como a capacidade de inovar e criar novos produtos e explorar novos mercados. E isto se aplica a todas as indústrias desde as de alta tecnologia, passando pela manufatura, serviços, varejo ou mesmo agricultura.
     A economia baseada em conhecimento desloca o eixo da riqueza e do desenvolvimento de setores industriais tradicionais (intensivos em mão-de-obra, matéria-prima e capital) para setores cujos produtos, processos e serviços são intensivos em tecnologias e conhecimentos. Segundo CAVALCANTI (1999) a máquina produtiva hoje se baseia mais em transforma informações em conhecimento e este em decisões e ações de negócio e o valor do produto depende cada vez mais do percentual de inovação, tecnologia e inteligência a eles incorporados.
   Na iniciativa privada essas mudanças refletiram num novo padrão de demandas de seus consumidores. Acostumados a lidar com uma produção de escala, de produtos padronizados, necessitam agora se adaptar a consumidores que querem produtos customizados, que atendam suas necessidades individuais. Se o modelo de produção e atendimento era até então padronizado, passa agora a ser flexível. A Internet, surge como ferramenta eficiente de relacionamento com essa nova clientela e mais do que uma ferramenta, às vezes a rede pode ser a sede de determinadas empresas, como é o caso do comércio eletrônico. Nesse cenário, a criatividade e iniciativa são atributos essenciais ao novo profissional que está se preparando para trabalhar nesse novo modelo econômico, que deve buscar conhecimentos sempre para lidar com as constantes mudanças.
     Como todo ciclo de mudanças, há impactos consideráveis nas sociedades. No processo de adaptação muitos podem ficar excluídos na nova realidade que se apresenta, cabendo aos governos o importante papel direcionador para minimizar consequências negativas e tentar distribuir da melhor maneira os benefícios advindos das novidades. Por outro lado, a quebra do equilíbrio vigente permite que novos atores explorem os espaços criados e se destaquem no novo cenário, sejam tais atores indivíduos numa sociedade, economias locais dentro de uma nação, ou países num contexto competitivo globalizado.

BiBliografia

BERNHEIM, C.T.; CHAUÍ, M.S. Desafios da Universidade na Sociedade do Conhecimneto. UNESCO, Paris, 2003.
CASTELLS, M. A Sociedade em Rede. Editora Paz e Terra, São Paulo, 1999.
CAVALCANTI, M. Seminário: A Sociedade do Conhecimento e a Política Industrial Brasileira. Centro de Referência em Inteligência Empresarial CRIE-COPPE/UFRJ, Rio

sábado, 23 de março de 2013

Teoria da Hélice Tríplice


Teoria da Hélice Tríplice: algumas considerações teóricas.

     Este resumo trás algumas considerações teóricas a partir dos trabalhos realizados por Márcio Moutinho Abdalla, Marcelo Vinicius Dória Calvosa e Luciene Gouveia Batista (Hélice Tríplice no Brasil: Um ensaio teórico acerca dos benefícios da entrada da universidade nas parcerias estatais), também do trabalho de Renato Dagnino (A Relação Universidade-Empresa no Brasil e o Argumento da Hélice Tríplice).
     Existe certa dificuldade em encontrar uma tradição bibliográfica sobre o tema por autores brasileiros e dentro de alguns trabalhos encontrados disponíveis, consideramos as definições nestes apresentadas, satisfatórias aos nossos objetivos. As análises nestes casos, se debruçam em autores que iniciaram esta teoria, a exemplo de Etzkowitz.
     O surgimento desta teoria pode estar associado a transição do paradigma da sociedade industrial para o da sociedade do conhecimento, onde o conhecimento e sua gestão entram nas discussões para o desenvolvimento das nações. A necessidade crescente de conhecimento científico para o alcance do progresso tecnológico e o encurtamento do ciclo das inovações introduziu um novo ator junto ao Governo e Inciativa Privada na condução ao crescimento e desenvolvimento do país: a universidade.
       A abordagem da Hélice Tríplice (HT) caracteriza a dinâmica da inovação dentro de um contexto de evolução, onde as relações se estabelecem entre três esferas institucionais, envolvendo três atores distintos: a universidade, a iniciativa privada e o governo, configurando três pás distintas de uma mesma hélice.
     Para FUGINO; STAL; PLONSKY, 1999, o estímulo à realização de projetos tecnológicos do Estado, incluindo a universidade ao segmento empresarial, está centrado no argumento de que essas interações favorecem o acesso aos conhecimentos e habilidades tecnológicas dos parceiros, além de minimizarem os riscos financeiros inerentes às atividades de pesquisa e desenvolvimento, ao mesmo tempo em que possibilitam novo aporte de recursos às atividades de pesquisa.
       Historicamente esta união parece ter surgido de uma incapacidade do Estado de forma isolada em gerar desenvolvimento sustentável, rápido, efetivo e de qualidade, o que demandou a entrada de outros atores no processo de desenvolvimento sócio-econômico. Observou-se então a entrada de um segundo ator, a iniciativa privada através das Parcerias Público-Privadas (PPPs) e posteriormente a entrada da Universidade como fornecedora de pesquisas e modelos de desenvolvimento. Deste modo para alguns autores, esta abordagem é um modelo evolutivo do conceito das PPPs. Enquanto o modelo das PPPs propõe a realização de atividades conjuntas entre o poder público e a iniciativa privada em favor da sociedade, a HT amplia o horizonte de atuação inserindo a universidade, que acrescenta aos projetos o incremento do conhecimento metodologicamente construído e da inovação.
       Para DAGNINO, 2003, apresenta-nos uma abordagem diferente dessa evolução histórica entre os três atores, dando uma visão mais global da composição desta teoria. O autor aponta o desenvolvimento do argumento da Hélice Tríplice no contexto internacional, parece estar associado duas correntes de análise há pouco originadas nos países desenvolvidos:

  •  A primeira corrente seria a Segunda Revolução Acadêmica que sugere um novo contrato social entre universidade e sociedade onde caberia a primeira a função de participar mais ativamente no processo de desenvolvimento econômico. Essa nova função que transcende seu papel inicial de ensino e pesquisa promove um entrelaçamento entre o âmbito da pesquisa e os formuladores de políticas públicas, sinalizando suas diretrizes e gerando por um lado, um processo de cooptação da comunidade de pesquisa, e de outro, a possibilidade de melhor direcionar a aplicabilidade dos resultados alcançados.
  •  A segunda corrente trataria da importância das relações com o entorno na competitividade das empresas. Essa corrente deixa de lado a visão do empresário empreendedor como agente principal e deflagrador do processo de inovação e assume que as características do ambiente determinariam em que medida a empresa seria capaz de participar ativamente do processo inovativo e implementar, no seu próprio âmbito e a partir de suas características peculiares o processo de difusão das inovações.

     A HT propicia a compreensão analítica dos processos de inovação no seu sentido mais amplo nos países em desenvolvimento (ETZKOWITZ e MELLO, 2004). Neste cenário torna-se imprescindível a participação de instituições de pesquisa, incluindo as universidades no desenvolvimento de competências para os setores produtivos dos serviços, assim como a atuação do governo na coordenação e estímulo aos processos de geração e disseminação do conhecimento, no aporte de recursos e na mobilização da sociedade e dos agentes econômicos, por meio da criação e suporte de programas, projeto e instituições, promotoras do desenvolvimento de ambientes favoráveis à inovação os quais poderão no futuro transformar-se em sistemas regionais ou nacionais de inovação.
Focando mais nas relações entre universidade e empresa, quais razões levariam a esta parceria? DAGNINO, 2003 apud Webster & Etzkowits (1991), aponta que por parte das empresas, estes seriam os principais motivadores:
  •  Custo crescente da pesquisa associada ao desenvolvimento de produtos e serviços necessários para assegurar posições vantajosas num mercado cada vez mais competitivo;
  •  A necessidade de compartilhar o custo e os riscos das pesquisas pré-competitivas com outras instituições que dispõem de suporte financeiro governamental;
  •  Elevado ritmo de introdução de inovações no setor produtivo e a redução do intervalo de tempo que decorre entre a obtenção dos primeiros resultados de pesquisa e sua aplicação;
  •  Decréscimo de recursos governamentais para pesquisa em setores antes profusamente fomentados, como os relacionados ao complexo industrial-militar.

Do lado das universidades, as principais razões seriam:
  •  Um crescente dificuldade em obtenção de recursos públicos par a pesquisa universitária e a expectativa de que estes possam ser proporcionados pelo setor privado em função do maior potencial de aplicação de seus resultados na produção;
  • Interesse da comunidade acadêmica em legitimar seu trabalho junto à sociedade que é, em grande medida, a responsável pela manutenção das instituições universitárias.

        Observa-se a partir do que foi exposto, selecionado de alguns estudiosos sobre o assunto, que esta tríplice relação surge a partir de uma nova dinâmica social, onde os antigos papeis de cada ator – governo, iniciativa privada e universidade – são renovados diante de novas demandas apresentadas e não supridas apenas pelo governo. Consideramos que o tema ainda carece de um aprofundamento na sua fundamentação teórica e que não há numeroso material disponível para consulta, mas que estas informações iniciais são suficientes para um inicial entendimento sobre Hélice Tríplice.
     Especialmente falando do papel da universidade nesse contexto, entendemos que enriquece o modelo anterior composto apenas pelos esforços do governo e da iniciativa privada. Algumas das contribuições mais importantes das universidades talvez se mostrem nas pesquisas realizadas em laboratórios acadêmicos, que em geral possuem custos menores do que os estudos efetuados por empresas privadas, já que não estão implícitos em seus objetivos, o lucro financeiro e sim o ganho social; na grande ênfase cultural da extensão universitária de trazer benefícios à sociedade; na grande concentração de recursos humanos especializados e capacitados para a leitura imprecisa do ambiente externo; nos modelos gerenciais flexíveis e adaptados à realidade da região circunvizinha da universidade; e nos instrumentos internos com o objetivo de auxiliar no ajuste das carências tecnológicas à realidade social e econômica de empresas nascentes, pequenas e médias, como: incubadoras tecnológicas, empresas juniores e agências de inovação. A junção deste ator à iniciativa privada se torna fundamental para responder aos anseios sociais e às diretrizes políticas quanto a Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação.





Bibliografia:

ABDALLA, M.M; CALVOSA, M.V.D.; BATISTA, L.G. Hélice Tríplice no Brasil: um ensaio teórico acerca dos benefícios da entrada da universidade nas parcerias estatais. 2009. Disponível em: www.fsma.edu.br/cadernos/Artigos/Cadernos_3_artigo_3.pdf . Acesso em 21/02/2013.
DAGNINO, R. A relação universidade-empresa no Brasil e o argumento da hélice tripla. Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Inovação, v.2, n.2, p.267-307, julho/dez, 2003.
ETZKOWITZ, H.; MELLO J.M.C. The Rise of a Triple Helix Culture - Innovation in Brazilian Economic and Social Development, International Journal of Technology Management and Sustainable Development, 2 (3) 159- 171, 2004.
FUJINO, A.; STAL, E.; PLONSKI, G.A. A proteção do conhecimento na universidade. Revista de Administração. São Paulo, v.34, n.4, p.46-55, out.dez., 1999.
MELLO, J.M.C. A Abordagem Hélice Tríplice e o Desenvolvimento Regional. II Seminário Internacional Empreendedorismo, Pequenas e Médias Empresas e Desenvolvimento Local. Rio de Janeiro, RJ, Brasil 02 a 04 de agosto de 2004.

terça-feira, 19 de março de 2013

As tecnologias têm um impacto?


Resenha do Capítulo I: As tecnologias têm um impacto?

      O livro “Cibercultura”, obra de Pierre Lévy, foi publicado em 1997 e mesmo passados pouco mais de 15 anos mostra-se uma obra atual, por nos propor uma reflexão para entender e repensar os rumos da humanidade sob o viés da aprendizagem a partir do uso das tecnologias digitais. Alguns dos desafios apresentados pelo autor ainda se impões tanto a instituições de ensino – responsáveis pela aprendizagem formal – tanto às demais organizações como ONGs e empresas, que lidam com a aprendizagem no seu dia a dia como elemento crucial num cenário competitivo.
     No primeiro capítulo Lévy propõe uma reflexão sobre a forma que percebemos as novas técnicas, sugerindo que equivocadamente nós as consideramos externas e estranhas à sociedade e em parte, determinantes dos nossos rumos.
     O autor sugere, no início do capítulo, que o termo “impacto” associados às tecnologias coloca a sociedade como objeto de um sujeito (as tecnologias) determinante e pouco controlável pela sociedade:      “A tecnologia seria algo comparável a um projétil (pedra, obus, míssil?) e a cultura ou a sociedade a um alvo vivo ...” (pag 21). E ainda: “Seria a tecnologia uma ator autônomo, separado da sociedade e da cultura, que seriam apenas entidades passivas percutidas por um agente exterior?” (pag 22). A partir deste ponto, propõe uma reflexão tentando desfazer esta ideia demonstrando que fazemos parte como sujeito ativo desse processo de criação de novas técnicas e que a tecnologia não é um ser autônomo e determinante, mas um condicionante no processo de desenvolvimento na sociedade contemporânea.
     Em certo momento, a leitura de partes do trabalho pode nos fazer lembrar que as tecnologias estão sujeitas às demandas da humanidade e são resultados de esforços físico e intelectual de pessoas que, primeiro interpretam ou reinterpretam o mundo através de signos vigentes e, em seguida transformam as entidades materiais disponíveis em solução tecnológica, para isso criando novas técnicas ou aproveitando as já disponíveis. Dessa forma, inverte o foco de nosso pensamento: “ em vez de enfatizar o impacto das tecnologias, poderíamos igualmente pensar que as tecnologias são produtos de uma sociedade e de uma cultura” (pag 23).
     Falando propriamente do universo da informática, multimídia ou mundo digital, o autor, aponta uma diversidade de interesses ou a “ambivalência e multiplicidade de das significações e dos projetos que envolvem as técnicas”. Desde a competição entre países, a supremacia militar até a colaboração entre pessoas na construção de uma inteligência coletiva. Aponta também a dificuldade em avaliar as implicações culturais, sociais, econômicas, políticas e cognitivas de uma tecnologia que evoluiu de tal forma e apresenta aplicações tão diversas: um mesmo computador que pode servir ao fim militar serve a uma instituição financeira ou ainda ao comum usuário que busca apenas entretenimento. As tecnologias se modernizam e ganham novos significados e usos, às vezes muito pessoais.
     Segue seu discurso esclarecendo sobre o papel condicionador e não determinante das novas técnicas definindo o condicionamento como a abertura de possibilidades, sujeitas a interpretações diversas ou coletiva – que não necessariamente serão aproveitadas – em que algumas opções culturais e sociais não poderiam ser pensadas a sério sem a sua presença. Talvez pela possibilidade de interpretações o autor sugira não ser uma técnica boa ou má, mas que seu uso pode abrir ou fechar o espectro das possibilidades, ou seja, cabe-nos definir que rumo daremos e seguiremos com as novidades e orienta que “não se trata de avaliar seus impactos, mas de situar as irreversibilidades às quais um de seus usos nos levaria, de formular os projetos que explorariam as virtualidades que ela transporta e de decidir o que fazer dela” (pag 26).
     Por outro lado, relativiza essa possibilidade de decidirmos o uso que daremos às novidades. Diante da as velocidade com que as técnicas parecem surgir, da multiplicidade de atores e interesses envolvidos no processo, algumas formas de uso se impões enquanto ainda discute-se as possibilidades. Essa própria velocidade das transformações do mundo digital é um dos motivos da estranheza e da sensação de impacto que nos causa, de tal forma que não conseguimos avaliar adequadamente o melhor uso e já nos é apresentada nova técnica. Essa velocidade, somada ao grande número de atores envolvido nesse processo, nos aumenta a sensação de pouco domínio sobre a situação, pois entre esses atores não há nenhum que domine toda a informação sobre todo o processo. Os diversos atores parecem dar contribuições de forma sinergética, mas sem a real ou total noção de seu envolvimento no todo de tal maneira que a impressão do “ser autônomo” é conferida ao processo. “A aceleração é tão forte e tão generalizada que até mesmo os mais “ligados” encontram-se em gruas diversos, ultrapassados pela mudança ... Resumindo, quanto mais rápida é a aceleração técnica, mais nos parece vir do exterior. Além disso, o sentimento de estranheza cresce com a separação das atividades e a opacidade dos processos sociais”. (pag 28)
     Por fim, defende que o crescimento do ciberespaço não é automaticamente determinante para o desenvolvimento de uma inteligência coletiva, mas assim como toda técnica, apenas condicionante e aponta que suas escolhas de uso podem gerar situações de isolamento e sobrecarga cognitiva, de dependência, de dominação, de exploração e ainda do que chamou de “bobagem coletiva”. E paradoxalmente essa cultura do ciberespaço que surge com ideais inclusivos pode promover a exclusão daqueles que não a compreendem e dela não se apropriam, devido ao ritmo acelerado e desestabilizante da alteração tecno-social.