domingo, 24 de março de 2013

Sociedade do Conhecimento


Sociedade do Conhecimento: resumo teórico.

     Neste resumo procuramos apresentar um apanhado de abordagens teóricas acerca da transformação de um paradigma de uma “sociedade industrial” para uma “sociedade do conhecimento” que posteriormente auxiliará no entendimento do cenário social para o estudo das relações entre empresa e universidades no processo de inovação tecnológica.
     O nosso mundo está em processo de transformação estrutural há algumas décadas, vivendo um processo multidimensional que está associado à emergência de um novo paradigma tecnológico, baseado nas tecnologias de comunicação e informação, que começaram a tomar forma em meados dos anos de 1960 e que se difundiram de forma desigual por todo o mundo. Lembramos que segundo Pierre Lévy, a tecnologia não determina a sociedade: ela mesma se determina. A sociedade é que dá forma a tecnologia de acordo com suas necessidades, valores e interesses das pessoas que utilizam as técnicas. Mas é inegável que esse novo paradigma tecnológico, está condicionando as relações que temos com os diversos atores sociais, bem como dando novo ritmo à competição que existe nos mercados entre empresas e entre nações.
     Não vamos aqui traçar uma definição rígida sobre “sociedade do conhecimento”, mas seguiremos uma noção importante para seu entendimento baseada nos estudos de BERNHEIM & CHAUÍ (2003) onde apontam que nesta sociedade o conhecimento assume papel central nos processos de produção, em contrapartida a “sociedade industrial” onde para CASTELLS (1999) a energia (elétrica, térmica, etc.) eram essenciais na difusão das formas organizacionais dessa sociedade. Dessa forma, estamos assistindo a emergência de um novo paradigma econômico e produtivo no qual o fator mais importante deixa de ser a disponibilidade de capital, trabalho e matérias-primas ou energia, passando a se o uso intensivo de conhecimento e informação.
     Para CAVALCANTI (1999), é um processo que vem de longos tempos. O primeiro economista a definir os fatores clássicos de produção como terra, capital e trabalho foi Jean Baptisti Say(1767-1832) que foi seguido em trabalhos posteriores por Adam Smitn. Esta classificação teve um profundo impacto no processo de desenvolvimento da economia enquanto ciência e guiou e continua guiando gerações de economistas, como é verificado que ainda hoje há textos que usam destes conceitos, baseados em processos produtivos e estruturas de classe do século XVIII.
     Fazendo um breve comparativo entre momentos distintos da história sob um viés econômico temos que nas economias de natureza agrícola, a terra e a mão-de-obra eram os fatores críticos para determinar o sucesso econômico. O capital e a tecnologia (o arado, por exemplo) eram importantes, mas a comunidade agrícola podia subsistir com o mínimo desses fatores, porém, sem terra e mão-de-obra era quase impossível. Com a revolução industrial, a tecnologia ganha importância, mas o capital e o trabalho passam a ser forças motrizes do desenvolvimento econômico. Com o surgimento da sociedade do conhecimento, os modelos econômicos que vão reger esta nova realidade precisam
ser revistos no sentido de incorporar o conhecimento não apenas como mais um fator de produção, mas como fator essencial ao processo de geração de riqueza.
     Não se trata de afirma que os fatores clássicos de produção não têm mais importância, mas que se tornaram secundários a medida que podem ser obtidos com algum facilidade desde que tenhamos conhecimento e que por outro lado, ter os fatores básicos de produção sem uma boa gestão de conhecimento pode levar a ineficiência. O conhecimento se torna então novo fator de produção.
Essa nova economia não se refere apenas às indústrias de software, computação ou biotecnologias, ou ainda a Internet como podemos ser levados a pensar. Os diversos autores sobre o tema fala que vai além, falam de vantagens competitivas como a capacidade de inovar e criar novos produtos e explorar novos mercados. E isto se aplica a todas as indústrias desde as de alta tecnologia, passando pela manufatura, serviços, varejo ou mesmo agricultura.
     A economia baseada em conhecimento desloca o eixo da riqueza e do desenvolvimento de setores industriais tradicionais (intensivos em mão-de-obra, matéria-prima e capital) para setores cujos produtos, processos e serviços são intensivos em tecnologias e conhecimentos. Segundo CAVALCANTI (1999) a máquina produtiva hoje se baseia mais em transforma informações em conhecimento e este em decisões e ações de negócio e o valor do produto depende cada vez mais do percentual de inovação, tecnologia e inteligência a eles incorporados.
   Na iniciativa privada essas mudanças refletiram num novo padrão de demandas de seus consumidores. Acostumados a lidar com uma produção de escala, de produtos padronizados, necessitam agora se adaptar a consumidores que querem produtos customizados, que atendam suas necessidades individuais. Se o modelo de produção e atendimento era até então padronizado, passa agora a ser flexível. A Internet, surge como ferramenta eficiente de relacionamento com essa nova clientela e mais do que uma ferramenta, às vezes a rede pode ser a sede de determinadas empresas, como é o caso do comércio eletrônico. Nesse cenário, a criatividade e iniciativa são atributos essenciais ao novo profissional que está se preparando para trabalhar nesse novo modelo econômico, que deve buscar conhecimentos sempre para lidar com as constantes mudanças.
     Como todo ciclo de mudanças, há impactos consideráveis nas sociedades. No processo de adaptação muitos podem ficar excluídos na nova realidade que se apresenta, cabendo aos governos o importante papel direcionador para minimizar consequências negativas e tentar distribuir da melhor maneira os benefícios advindos das novidades. Por outro lado, a quebra do equilíbrio vigente permite que novos atores explorem os espaços criados e se destaquem no novo cenário, sejam tais atores indivíduos numa sociedade, economias locais dentro de uma nação, ou países num contexto competitivo globalizado.

BiBliografia

BERNHEIM, C.T.; CHAUÍ, M.S. Desafios da Universidade na Sociedade do Conhecimneto. UNESCO, Paris, 2003.
CASTELLS, M. A Sociedade em Rede. Editora Paz e Terra, São Paulo, 1999.
CAVALCANTI, M. Seminário: A Sociedade do Conhecimento e a Política Industrial Brasileira. Centro de Referência em Inteligência Empresarial CRIE-COPPE/UFRJ, Rio

sábado, 23 de março de 2013

Teoria da Hélice Tríplice


Teoria da Hélice Tríplice: algumas considerações teóricas.

     Este resumo trás algumas considerações teóricas a partir dos trabalhos realizados por Márcio Moutinho Abdalla, Marcelo Vinicius Dória Calvosa e Luciene Gouveia Batista (Hélice Tríplice no Brasil: Um ensaio teórico acerca dos benefícios da entrada da universidade nas parcerias estatais), também do trabalho de Renato Dagnino (A Relação Universidade-Empresa no Brasil e o Argumento da Hélice Tríplice).
     Existe certa dificuldade em encontrar uma tradição bibliográfica sobre o tema por autores brasileiros e dentro de alguns trabalhos encontrados disponíveis, consideramos as definições nestes apresentadas, satisfatórias aos nossos objetivos. As análises nestes casos, se debruçam em autores que iniciaram esta teoria, a exemplo de Etzkowitz.
     O surgimento desta teoria pode estar associado a transição do paradigma da sociedade industrial para o da sociedade do conhecimento, onde o conhecimento e sua gestão entram nas discussões para o desenvolvimento das nações. A necessidade crescente de conhecimento científico para o alcance do progresso tecnológico e o encurtamento do ciclo das inovações introduziu um novo ator junto ao Governo e Inciativa Privada na condução ao crescimento e desenvolvimento do país: a universidade.
       A abordagem da Hélice Tríplice (HT) caracteriza a dinâmica da inovação dentro de um contexto de evolução, onde as relações se estabelecem entre três esferas institucionais, envolvendo três atores distintos: a universidade, a iniciativa privada e o governo, configurando três pás distintas de uma mesma hélice.
     Para FUGINO; STAL; PLONSKY, 1999, o estímulo à realização de projetos tecnológicos do Estado, incluindo a universidade ao segmento empresarial, está centrado no argumento de que essas interações favorecem o acesso aos conhecimentos e habilidades tecnológicas dos parceiros, além de minimizarem os riscos financeiros inerentes às atividades de pesquisa e desenvolvimento, ao mesmo tempo em que possibilitam novo aporte de recursos às atividades de pesquisa.
       Historicamente esta união parece ter surgido de uma incapacidade do Estado de forma isolada em gerar desenvolvimento sustentável, rápido, efetivo e de qualidade, o que demandou a entrada de outros atores no processo de desenvolvimento sócio-econômico. Observou-se então a entrada de um segundo ator, a iniciativa privada através das Parcerias Público-Privadas (PPPs) e posteriormente a entrada da Universidade como fornecedora de pesquisas e modelos de desenvolvimento. Deste modo para alguns autores, esta abordagem é um modelo evolutivo do conceito das PPPs. Enquanto o modelo das PPPs propõe a realização de atividades conjuntas entre o poder público e a iniciativa privada em favor da sociedade, a HT amplia o horizonte de atuação inserindo a universidade, que acrescenta aos projetos o incremento do conhecimento metodologicamente construído e da inovação.
       Para DAGNINO, 2003, apresenta-nos uma abordagem diferente dessa evolução histórica entre os três atores, dando uma visão mais global da composição desta teoria. O autor aponta o desenvolvimento do argumento da Hélice Tríplice no contexto internacional, parece estar associado duas correntes de análise há pouco originadas nos países desenvolvidos:

  •  A primeira corrente seria a Segunda Revolução Acadêmica que sugere um novo contrato social entre universidade e sociedade onde caberia a primeira a função de participar mais ativamente no processo de desenvolvimento econômico. Essa nova função que transcende seu papel inicial de ensino e pesquisa promove um entrelaçamento entre o âmbito da pesquisa e os formuladores de políticas públicas, sinalizando suas diretrizes e gerando por um lado, um processo de cooptação da comunidade de pesquisa, e de outro, a possibilidade de melhor direcionar a aplicabilidade dos resultados alcançados.
  •  A segunda corrente trataria da importância das relações com o entorno na competitividade das empresas. Essa corrente deixa de lado a visão do empresário empreendedor como agente principal e deflagrador do processo de inovação e assume que as características do ambiente determinariam em que medida a empresa seria capaz de participar ativamente do processo inovativo e implementar, no seu próprio âmbito e a partir de suas características peculiares o processo de difusão das inovações.

     A HT propicia a compreensão analítica dos processos de inovação no seu sentido mais amplo nos países em desenvolvimento (ETZKOWITZ e MELLO, 2004). Neste cenário torna-se imprescindível a participação de instituições de pesquisa, incluindo as universidades no desenvolvimento de competências para os setores produtivos dos serviços, assim como a atuação do governo na coordenação e estímulo aos processos de geração e disseminação do conhecimento, no aporte de recursos e na mobilização da sociedade e dos agentes econômicos, por meio da criação e suporte de programas, projeto e instituições, promotoras do desenvolvimento de ambientes favoráveis à inovação os quais poderão no futuro transformar-se em sistemas regionais ou nacionais de inovação.
Focando mais nas relações entre universidade e empresa, quais razões levariam a esta parceria? DAGNINO, 2003 apud Webster & Etzkowits (1991), aponta que por parte das empresas, estes seriam os principais motivadores:
  •  Custo crescente da pesquisa associada ao desenvolvimento de produtos e serviços necessários para assegurar posições vantajosas num mercado cada vez mais competitivo;
  •  A necessidade de compartilhar o custo e os riscos das pesquisas pré-competitivas com outras instituições que dispõem de suporte financeiro governamental;
  •  Elevado ritmo de introdução de inovações no setor produtivo e a redução do intervalo de tempo que decorre entre a obtenção dos primeiros resultados de pesquisa e sua aplicação;
  •  Decréscimo de recursos governamentais para pesquisa em setores antes profusamente fomentados, como os relacionados ao complexo industrial-militar.

Do lado das universidades, as principais razões seriam:
  •  Um crescente dificuldade em obtenção de recursos públicos par a pesquisa universitária e a expectativa de que estes possam ser proporcionados pelo setor privado em função do maior potencial de aplicação de seus resultados na produção;
  • Interesse da comunidade acadêmica em legitimar seu trabalho junto à sociedade que é, em grande medida, a responsável pela manutenção das instituições universitárias.

        Observa-se a partir do que foi exposto, selecionado de alguns estudiosos sobre o assunto, que esta tríplice relação surge a partir de uma nova dinâmica social, onde os antigos papeis de cada ator – governo, iniciativa privada e universidade – são renovados diante de novas demandas apresentadas e não supridas apenas pelo governo. Consideramos que o tema ainda carece de um aprofundamento na sua fundamentação teórica e que não há numeroso material disponível para consulta, mas que estas informações iniciais são suficientes para um inicial entendimento sobre Hélice Tríplice.
     Especialmente falando do papel da universidade nesse contexto, entendemos que enriquece o modelo anterior composto apenas pelos esforços do governo e da iniciativa privada. Algumas das contribuições mais importantes das universidades talvez se mostrem nas pesquisas realizadas em laboratórios acadêmicos, que em geral possuem custos menores do que os estudos efetuados por empresas privadas, já que não estão implícitos em seus objetivos, o lucro financeiro e sim o ganho social; na grande ênfase cultural da extensão universitária de trazer benefícios à sociedade; na grande concentração de recursos humanos especializados e capacitados para a leitura imprecisa do ambiente externo; nos modelos gerenciais flexíveis e adaptados à realidade da região circunvizinha da universidade; e nos instrumentos internos com o objetivo de auxiliar no ajuste das carências tecnológicas à realidade social e econômica de empresas nascentes, pequenas e médias, como: incubadoras tecnológicas, empresas juniores e agências de inovação. A junção deste ator à iniciativa privada se torna fundamental para responder aos anseios sociais e às diretrizes políticas quanto a Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação.





Bibliografia:

ABDALLA, M.M; CALVOSA, M.V.D.; BATISTA, L.G. Hélice Tríplice no Brasil: um ensaio teórico acerca dos benefícios da entrada da universidade nas parcerias estatais. 2009. Disponível em: www.fsma.edu.br/cadernos/Artigos/Cadernos_3_artigo_3.pdf . Acesso em 21/02/2013.
DAGNINO, R. A relação universidade-empresa no Brasil e o argumento da hélice tripla. Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Inovação, v.2, n.2, p.267-307, julho/dez, 2003.
ETZKOWITZ, H.; MELLO J.M.C. The Rise of a Triple Helix Culture - Innovation in Brazilian Economic and Social Development, International Journal of Technology Management and Sustainable Development, 2 (3) 159- 171, 2004.
FUJINO, A.; STAL, E.; PLONSKI, G.A. A proteção do conhecimento na universidade. Revista de Administração. São Paulo, v.34, n.4, p.46-55, out.dez., 1999.
MELLO, J.M.C. A Abordagem Hélice Tríplice e o Desenvolvimento Regional. II Seminário Internacional Empreendedorismo, Pequenas e Médias Empresas e Desenvolvimento Local. Rio de Janeiro, RJ, Brasil 02 a 04 de agosto de 2004.

terça-feira, 19 de março de 2013

As tecnologias têm um impacto?


Resenha do Capítulo I: As tecnologias têm um impacto?

      O livro “Cibercultura”, obra de Pierre Lévy, foi publicado em 1997 e mesmo passados pouco mais de 15 anos mostra-se uma obra atual, por nos propor uma reflexão para entender e repensar os rumos da humanidade sob o viés da aprendizagem a partir do uso das tecnologias digitais. Alguns dos desafios apresentados pelo autor ainda se impões tanto a instituições de ensino – responsáveis pela aprendizagem formal – tanto às demais organizações como ONGs e empresas, que lidam com a aprendizagem no seu dia a dia como elemento crucial num cenário competitivo.
     No primeiro capítulo Lévy propõe uma reflexão sobre a forma que percebemos as novas técnicas, sugerindo que equivocadamente nós as consideramos externas e estranhas à sociedade e em parte, determinantes dos nossos rumos.
     O autor sugere, no início do capítulo, que o termo “impacto” associados às tecnologias coloca a sociedade como objeto de um sujeito (as tecnologias) determinante e pouco controlável pela sociedade:      “A tecnologia seria algo comparável a um projétil (pedra, obus, míssil?) e a cultura ou a sociedade a um alvo vivo ...” (pag 21). E ainda: “Seria a tecnologia uma ator autônomo, separado da sociedade e da cultura, que seriam apenas entidades passivas percutidas por um agente exterior?” (pag 22). A partir deste ponto, propõe uma reflexão tentando desfazer esta ideia demonstrando que fazemos parte como sujeito ativo desse processo de criação de novas técnicas e que a tecnologia não é um ser autônomo e determinante, mas um condicionante no processo de desenvolvimento na sociedade contemporânea.
     Em certo momento, a leitura de partes do trabalho pode nos fazer lembrar que as tecnologias estão sujeitas às demandas da humanidade e são resultados de esforços físico e intelectual de pessoas que, primeiro interpretam ou reinterpretam o mundo através de signos vigentes e, em seguida transformam as entidades materiais disponíveis em solução tecnológica, para isso criando novas técnicas ou aproveitando as já disponíveis. Dessa forma, inverte o foco de nosso pensamento: “ em vez de enfatizar o impacto das tecnologias, poderíamos igualmente pensar que as tecnologias são produtos de uma sociedade e de uma cultura” (pag 23).
     Falando propriamente do universo da informática, multimídia ou mundo digital, o autor, aponta uma diversidade de interesses ou a “ambivalência e multiplicidade de das significações e dos projetos que envolvem as técnicas”. Desde a competição entre países, a supremacia militar até a colaboração entre pessoas na construção de uma inteligência coletiva. Aponta também a dificuldade em avaliar as implicações culturais, sociais, econômicas, políticas e cognitivas de uma tecnologia que evoluiu de tal forma e apresenta aplicações tão diversas: um mesmo computador que pode servir ao fim militar serve a uma instituição financeira ou ainda ao comum usuário que busca apenas entretenimento. As tecnologias se modernizam e ganham novos significados e usos, às vezes muito pessoais.
     Segue seu discurso esclarecendo sobre o papel condicionador e não determinante das novas técnicas definindo o condicionamento como a abertura de possibilidades, sujeitas a interpretações diversas ou coletiva – que não necessariamente serão aproveitadas – em que algumas opções culturais e sociais não poderiam ser pensadas a sério sem a sua presença. Talvez pela possibilidade de interpretações o autor sugira não ser uma técnica boa ou má, mas que seu uso pode abrir ou fechar o espectro das possibilidades, ou seja, cabe-nos definir que rumo daremos e seguiremos com as novidades e orienta que “não se trata de avaliar seus impactos, mas de situar as irreversibilidades às quais um de seus usos nos levaria, de formular os projetos que explorariam as virtualidades que ela transporta e de decidir o que fazer dela” (pag 26).
     Por outro lado, relativiza essa possibilidade de decidirmos o uso que daremos às novidades. Diante da as velocidade com que as técnicas parecem surgir, da multiplicidade de atores e interesses envolvidos no processo, algumas formas de uso se impões enquanto ainda discute-se as possibilidades. Essa própria velocidade das transformações do mundo digital é um dos motivos da estranheza e da sensação de impacto que nos causa, de tal forma que não conseguimos avaliar adequadamente o melhor uso e já nos é apresentada nova técnica. Essa velocidade, somada ao grande número de atores envolvido nesse processo, nos aumenta a sensação de pouco domínio sobre a situação, pois entre esses atores não há nenhum que domine toda a informação sobre todo o processo. Os diversos atores parecem dar contribuições de forma sinergética, mas sem a real ou total noção de seu envolvimento no todo de tal maneira que a impressão do “ser autônomo” é conferida ao processo. “A aceleração é tão forte e tão generalizada que até mesmo os mais “ligados” encontram-se em gruas diversos, ultrapassados pela mudança ... Resumindo, quanto mais rápida é a aceleração técnica, mais nos parece vir do exterior. Além disso, o sentimento de estranheza cresce com a separação das atividades e a opacidade dos processos sociais”. (pag 28)
     Por fim, defende que o crescimento do ciberespaço não é automaticamente determinante para o desenvolvimento de uma inteligência coletiva, mas assim como toda técnica, apenas condicionante e aponta que suas escolhas de uso podem gerar situações de isolamento e sobrecarga cognitiva, de dependência, de dominação, de exploração e ainda do que chamou de “bobagem coletiva”. E paradoxalmente essa cultura do ciberespaço que surge com ideais inclusivos pode promover a exclusão daqueles que não a compreendem e dela não se apropriam, devido ao ritmo acelerado e desestabilizante da alteração tecno-social.

Interação universidade - empresa na sociedade do conhecimento: reflexões e realidade

Resumo
  Com o objetivo de analisar a relação universidade-empresa, Mota nos apresenta  a importância  desses elementos no avanço tecnológico, relacionando-o diretamente com nossa sociedade e com os principais desafios a serem superados.
     “Neste final de século, o processo de mudança tecnológica atingiu uma velocidade e importância nunca antes vistas na história humana” e esse processo de ingresso na sociedade do conhecimento (deixando a sociedade industrial) é  um fator chave para o desenvolvimento econômico de qualquer região.
     A medida que existe um grau de interdependência cada vez maior entre os países, seja ela econômica politica e ou tecnológica  a competitividade de uma nação  depende e é medida através de sua capacidade de inovar nas industrias. Porem, observa-se  que a inovação depende muito mais da aprendizagem do conhecimento do que dos recursos disponíveis,  pois mesmo que as empresas sejam as responsáveis por materializar a acumulação tecnologia, seu desempenho depende diretamente da densidade e capacidade que a relação agente-organização tem   de  reproduzir e retroalimentar processos de aprendizagem e convertê-los em atividade inovadora. Assim entendemos como funcionam os países de economia industrial avançada:  eles apresentam uma forte interação das atividades dos sistemas de ciência e tecnologia.
   Apos listar, os principais problemas da America Latina, a saber: a) falta de comunicação interinstitucional e ausência de sistemas nacionais de inovação; b) ausência de políticas e falta de constância na aplicação das existentes; c) crise no sistema educacional; d) frágil mecanismo de formação de uma cultura industrial ;e) carência de instrumentos básicos para desenvolver competitividade tecnoeconômica; f) limitadaprojeção da cooperação internacional; Mota nos apresenta uma pequena analise da economia brasileira e sugestões do que deve ou pelo menos deveria ser levado em consideração no modelo seguido pelo governo.
       Para ela, basicamente, a estratégia de inovação no Brasil deve estar orientada para maior articulação
com o setor produtivo, bem como para as atividades imitativasadaptativas, deixando a geração de tecnologias inteiramente novas, principalmente as relativas aos novos produtos, para os países centrais, exceção ao desenvolvimento de produtos que não se constituem interesses daqueles, mas o são para os países periféricos. E o  sistema de C&T dos países como o Brasil deve ficar atento à necessidade de desenvolver capacitação tecnológicos ligados à microeletrônica, à biotecnologia e aos novos materiais nessas áreas, para absorver o processo de transferência de tecnologia.
      Mota também analisa os mecanismos de interação da sociedade-empresa e o papel do que ela chama de agentes de interação(profissionais responsáveis por "traduzir a linguagem do pesquisador e do empresario" para que estes possam trabalhar eficazmente. o agente de interação é conhecedor dos dois mundos e portanto capaz de ser uma intermediador nessa relação empresa - universidade)
     Concui-se entao que : “Embora com objetivos bastante diferenciados, universidades, institutos e empresas são parte de um sistema e devem interagir de forma a maximizar os benefícios para seus objetivos e, conseqüentemente, para a sociedade como um todo. Entretanto, temos que tomar consciência de que a interação entre duas instituições requer um esforço de cada parte, tanto para ser iniciada, como para ser mantida; assim sendo, ela só é estável se as vantagens percebidas superarem, significativamente, este esforço. Estas vantagens têm que estar ligadas aos seus objetivos básicos, ou seja, deve haver, numa universidade, uma percepção de que a interação contribui para a sua missão de formar recursos humanos; (...) e a empresa tem que ver nela uma contribuição direta ou indireta para sua lucratividade."(RIPPER FILHO. Ciência e tecnologia: para que? como?, p. 141.)










terça-feira, 12 de março de 2013

Inovação tecnológica e o papel do governo

Estratégias para ciência, tecnologia e inovação

Inovação tecnológica e o papel
do governo

RENATO FONSECA

RESUMO/Fichamento


Este trabalho procura identificar as principais áreas de atuação que o governo de um país pode atuar com o intuito de promover o progresso tecnológico e , em última instância , o crescimento do produto per capita e do padrão de vida da sociedade .
A seção 4 é reservada para a discussão sobre os benefícios privados e sociais da inovação , enquanto na seção 5 , são apresentadas as ações do governo e suas justificativas .
Quando fala em ideias, Romer se refere desde novas maneiras de se produzir um mesmo bem até a criação de um novo bem . Em ambos os casos, a nova ideia combina, de uma nova maneira , os recursos de produção existente de modo a produzir uma maior quantidade de um bem ou de tipos de bens .            

O CONCEITO DE IDÉIA

O processo de inovação tecnológica está intimamente ligado à geração de ideias, ainda que inovação seja mais do que criar uma ideia, mas colocar essa ideia em uso. 
Um bem não-rival é aquele cujo uso por um indivíduo não impede o uso , mesmo que simultaneamente , por outros . Tal característica implica em economias de escala dificultando a produção de tal bem numa economia competitiva , em que o preço se iguala ao custo marginal .
Idéia , tão logo seja divulgada , pode ser utilizada por qualquer um , desde que este tenha capacitação para isto .  Ainda que não seja impossível , é muito difícil evitar a difusão descontrolada de tal idéia . À medida que o cozinheiro publicar um livro com a idéia , ainda que o livro seja rival e de uso exclusivo a idéia deixa de sê-lo . A não-rivalidade faz com que o custo de se “produzir novas unidades” de uma mesma idéia , ou seja , de se replicar a idéia , seja praticamente zero .
Aqui surge a importância do governo no papel de garantir os direitos de propriedade sobre a idéia , tornando a idéia um bem de uso exclusivo através das instituições legais .
A produção de idéias gera externalidade positiva , ou seja , aumenta a produtividade na produção de novas idéias .
O fato da produção de idéias gerar externalidade positiva já justifica , por si só , a intervenção do governo .
Toda atividade produtiva que gera externalidade positiva produz , por definição , um benefício social maior do que o privado , ou seja , maior do que o apropriado pelo produtor . Consequentemente, na maioria dos casos, o produtor produzirá menos do que o ótimo, ou mesmo deixará de produzir o bem ainda que o resultado seja socialmente vantajoso ( benefício social maior do que o custo social ) .
Para eliminar tal problema o governo deve intervir subsidiando a produção de idéias de modo a reduzir o custo de produção e/ou aumentar o benefício privado . Assim sendo , o monopólio oferece mais uma razão para o governo intervir na economia , apoiando a produção de idéias . Em resposta a tal atitude , o governo deve patrocinar um ambiente mais competitivo , aumentando o custo da empresa em retardar a inovação .
Para incentivar a inovação o governo deve patrocinar a criação do direito de propriedade sobre as invenções , ou seja , a criação de monopólios . 
Desse modo , o principal papel do governo no que concerne à inovação tecnológica , portanto , é o de prover os incentivos corretos ao desenvolvimento e à difusão de idéias por parte do setor privado ( ações indiretas ) . Não obstante , em alguns casos , dado o elevado benefício social da nova idéia ( externalidade positiva ) , o governo vê-se forçado a atuar diretamente na produção e/ou difusão de idéias . 
A seguir procuramos identificar as principais áreas de ação do governo , dividindo-as em diretas e indiretas .

AÇÕES INDIRETAS

As ações indiretas são aquelas em que o governo não atua diretamente sobre o setor produtor de idéias e , por isso , não são , em geral , classificadas como política tecnológica . O governo deve procurar prover um ambiente econômico que minimize os desvios de recursos . Porém , o próprio governo é muitas vezes causador de desvio via tributação elevada e excesso de burocracia que , por sua vez , estimula a corrupção e a atividade lobista .
Como ressaltado por Jones ( 1998 ) , “O poder de fazer e implementar leis traz consigo um enorme poder de criação de desvios por parte do governo.Isto sugere a importância de um sistema efetivo de controle mútuo por parte das várias instâncias do governo e da separação de poderes” .
O governo deve promover um ambiente econômico competitivo , coibindo a formação de cartéis , monopólio e a forte con72 Renato Fonseca centração do mercado . A competição deve ser estimulada tanto entre as empresas produtivas quanto entre os diferentes centros de pesquisas e universidades .
Por sua vez , a atividade exportadora leva o produtor doméstico a outros mercados onde ele entra em contato com novas idéias , seja de produto e processo de produção , seja de operações de logísticas e de gerenciamento .
Assim , podemos dividir a atuação do governo em duas vertentes : 1 ) educação – geração de capital humano e 2 ) infra-estrutura – criação de centro de pesquisas , rede de comunicação etc .
A ação do governo nessa área deve atingir todos os níveis de educação : básica , técnica e universitária .
Segundo Kim ( 1998 ) , o governo deve expandir os investimentos em educação antes mesmo de iniciar o programa de industrialização .Tal política permitirá a acumulação de um estoque de capital humano , ainda que fora do país , que poderá ser , posteriormente , atraído de volta .
No que concerne ao Brasil , dado o seu estágio de industrialização e de capacitação , o governo deve estimular a permanência da mão-de-obra qualificada no país . Com relação ao ensino técnico , este deve ser voltado para a difusão das idéias . A educação neste nível deve concentrar-se nas necessida de mercado , sendo os recursos distribuídos com base em critérios práticos sem , contudo , desconsiderar a qualidade do ensino . Outra área de atuação do governo na criação de capital humano refere-se ao intercâmbio de pesquisadores entre os centros domésticos e entre os centros domésticos e os estrangeiros .

INFRA-ESTRUTURA

As ações do governo na área de capacitação da economia para usar e criar idéias não apresentam uma divisão clara entre ações diretas e indiretas . 
A promoção de centros de pesquisas envolve também um aparato regulatório que estimule o uso eficiente dos recursos , a maior interação entre os centros de pesquisas e entre estes e a indústria .
Prover informação é outra tarefa importante que deve ser realizada pelo governo .Tal atitude tende a discriminar as pesquisas aplicadas na alocação de recursos e incentivos governamentais , reduzindo a eficácia da política tecnológica .Portanto , não se deve discriminar as primeiras com relação às segundas na formulação de política e na alocação de recursos .

AÇÕES DIRETAS

Ainda que o principal papel do governo seja o de prover um ambiente econômico e político favorável às atividades de P&D , em algumas situações o elevado benefício social da nova idéia demanda a atuação direta na produção e/ou difusão de idéias .
Ou seja , tais políticas estimulam as empresas a procurarem aumentar seus lucros não inovando , mas através da influência sobre o governo no que diz respeito à imposição e manutenção de incentivos e legislações que protejam a empresa contra a competição .
Kim ( 1998 ) apresenta uma visão semelhante , embora seja bem mais cético com relação aos ganhos proporcionados por investimentos diretos ou licenciamentos estrangeiros .
As políticas devem ser abrangentes e ao mesmo tempo estimular tanto o uso de novas idéias como , principalmente , a criação de idéias domesticamente .Posteriormente , realizando-se novas comparações com as experiências de outros países será possível montar um conjunto de recomendações que proporcione maior incentivo ao uso e à produção de idéias no Brasil .
Primeiramente , o governo deve propiciar os incentivos necessários para que o setor privado se engaje de maneira significativa em atividades de P&D e de inovação. Conseqüentemente , a implementação de políticas , com base no argumento de se atingir uma situação “segunda melhor” , deve ser analisada com cuidado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste trabalho foi esquematizar o papel do governo como indutor de P&D e, conseqüentemente, do desenvolvimento econômico do país .
A partir da classificação de ações aqui proposta pode-se procurar identificar o desempenho do governo brasileiro nas diferentes áreas de ação apresentadas .
Primeiramente , o governo deve propiciar os incentivos necessários para que o setor privado se engaje de maneira significativa em atividades de P&D e de inovação .
Em segundo lugar , considerando as externalidades positivas geradas pela atividade de P&D , o governo deve , ele próprio , produzir e/ou subsidiar a produção e a difusão de novas idéias .
Por fim, vale ressaltar a forte interdependência entre as diversas
ações aqui apresentadas.

Apresentação - CTS


      O Blog tem o objetivo de ser um diário eletrônico do desenvolvimento da apresentação final do curso CTS. O trabalho tem como tema a relação Universidade-Empresa no cenário de Inovação tecnológica. O estudo visa refletir a entrada da iniciativa privada e da universidade nos processos de desenvolvimento sócio-econômico e de inovação  usando como referencia as relações estabelecidas entre a Ufabc e as empresas em seu entorno. 
    A principal corrente teórica que norteara os estudos sera o argumento da Hélice Tríplice(HT) que relaciona três principais atores e seus papeis no campo da C&T&I: Governo, Iniciativa Privada e Universidade.
  "O estimulo a realização de projetos tecnológicos do Estado, incluindo a universidade ao segmento empresarial esta centrado no argumento de que essas interações favorecem o acesso aos conhecimentos e habilidades tecnológicas dos parceiros alem de minimizarem os riscos financeiros inerentes as atividades de pesquisa e desenvolvimento, ao mesmo tempo que possibilita um novo aporte as atividades de pesquisa"(FUJINO; STAL; PLONSKE, 1999).
     Os modelos anteriores a HT preconizavam a participação apenas dos dois atores, governo e iniciativa privada, como principais responsáveis pelo processo de inovação nos países  A entrada do ator universidade completa os modelos anteriores que levam em conta apenas os esforços de governo e empresas privadas. 
       A nossa tentativa sera, dentro desse novo contexto, refletir sobre o papel da universidade nas relações com a iniciativa privada a partir da observação das relações estabelecidas entre a Universidade Federal do ABC e as empresas que com esta firmaram convênios.

Referencias:
FUJINO,A; STAL, E.; PLONSKE,G.A. A proteção do conhecimento na universidade. Revista de Administração. São Paulo, V.34, n.4, p. 46-55, out./dez.1999.