Sociedade do Conhecimento: resumo teórico.

O nosso mundo está em processo de transformação estrutural há algumas décadas, vivendo um processo multidimensional que está associado à emergência de um novo paradigma tecnológico, baseado nas tecnologias de comunicação e informação, que começaram a tomar forma em meados dos anos de 1960 e que se difundiram de forma desigual por todo o mundo. Lembramos que segundo Pierre Lévy, a tecnologia não determina a sociedade: ela mesma se determina. A sociedade é que dá forma a tecnologia de acordo com suas necessidades, valores e interesses das pessoas que utilizam as técnicas. Mas é inegável que esse novo paradigma tecnológico, está condicionando as relações que temos com os diversos atores sociais, bem como dando novo ritmo à competição que existe nos mercados entre empresas e entre nações.
Não vamos aqui traçar uma definição rígida sobre “sociedade do conhecimento”, mas seguiremos uma noção importante para seu entendimento baseada nos estudos de BERNHEIM & CHAUÍ (2003) onde apontam que nesta sociedade o conhecimento assume papel central nos processos de produção, em contrapartida a “sociedade industrial” onde para CASTELLS (1999) a energia (elétrica, térmica, etc.) eram essenciais na difusão das formas organizacionais dessa sociedade. Dessa forma, estamos assistindo a emergência de um novo paradigma econômico e produtivo no qual o fator mais importante deixa de ser a disponibilidade de capital, trabalho e matérias-primas ou energia, passando a se o uso intensivo de conhecimento e informação.
Para CAVALCANTI (1999), é um processo que vem de longos tempos. O primeiro economista a definir os fatores clássicos de produção como terra, capital e trabalho foi Jean Baptisti Say(1767-1832) que foi seguido em trabalhos posteriores por Adam Smitn. Esta classificação teve um profundo impacto no processo de desenvolvimento da economia enquanto ciência e guiou e continua guiando gerações de economistas, como é verificado que ainda hoje há textos que usam destes conceitos, baseados em processos produtivos e estruturas de classe do século XVIII.
Fazendo um breve comparativo entre momentos distintos da história sob um viés econômico temos que nas economias de natureza agrícola, a terra e a mão-de-obra eram os fatores críticos para determinar o sucesso econômico. O capital e a tecnologia (o arado, por exemplo) eram importantes, mas a comunidade agrícola podia subsistir com o mínimo desses fatores, porém, sem terra e mão-de-obra era quase impossível. Com a revolução industrial, a tecnologia ganha importância, mas o capital e o trabalho passam a ser forças motrizes do desenvolvimento econômico. Com o surgimento da sociedade do conhecimento, os modelos econômicos que vão reger esta nova realidade precisam
ser revistos no sentido de incorporar o conhecimento não apenas como mais um fator de produção, mas como fator essencial ao processo de geração de riqueza.
Não se trata de afirma que os fatores clássicos de produção não têm mais importância, mas que se tornaram secundários a medida que podem ser obtidos com algum facilidade desde que tenhamos conhecimento e que por outro lado, ter os fatores básicos de produção sem uma boa gestão de conhecimento pode levar a ineficiência. O conhecimento se torna então novo fator de produção.
Essa nova economia não se refere apenas às indústrias de software, computação ou biotecnologias, ou ainda a Internet como podemos ser levados a pensar. Os diversos autores sobre o tema fala que vai além, falam de vantagens competitivas como a capacidade de inovar e criar novos produtos e explorar novos mercados. E isto se aplica a todas as indústrias desde as de alta tecnologia, passando pela manufatura, serviços, varejo ou mesmo agricultura.
A economia baseada em conhecimento desloca o eixo da riqueza e do desenvolvimento de setores industriais tradicionais (intensivos em mão-de-obra, matéria-prima e capital) para setores cujos produtos, processos e serviços são intensivos em tecnologias e conhecimentos. Segundo CAVALCANTI (1999) a máquina produtiva hoje se baseia mais em transforma informações em conhecimento e este em decisões e ações de negócio e o valor do produto depende cada vez mais do percentual de inovação, tecnologia e inteligência a eles incorporados.
Na iniciativa privada essas mudanças refletiram num novo padrão de demandas de seus consumidores. Acostumados a lidar com uma produção de escala, de produtos padronizados, necessitam agora se adaptar a consumidores que querem produtos customizados, que atendam suas necessidades individuais. Se o modelo de produção e atendimento era até então padronizado, passa agora a ser flexível. A Internet, surge como ferramenta eficiente de relacionamento com essa nova clientela e mais do que uma ferramenta, às vezes a rede pode ser a sede de determinadas empresas, como é o caso do comércio eletrônico. Nesse cenário, a criatividade e iniciativa são atributos essenciais ao novo profissional que está se preparando para trabalhar nesse novo modelo econômico, que deve buscar conhecimentos sempre para lidar com as constantes mudanças.
Como todo ciclo de mudanças, há impactos consideráveis nas sociedades. No processo de adaptação muitos podem ficar excluídos na nova realidade que se apresenta, cabendo aos governos o importante papel direcionador para minimizar consequências negativas e tentar distribuir da melhor maneira os benefícios advindos das novidades. Por outro lado, a quebra do equilíbrio vigente permite que novos atores explorem os espaços criados e se destaquem no novo cenário, sejam tais atores indivíduos numa sociedade, economias locais dentro de uma nação, ou países num contexto competitivo globalizado.
BiBliografia
BERNHEIM, C.T.; CHAUÍ, M.S. Desafios da Universidade na Sociedade do Conhecimneto. UNESCO, Paris, 2003.
CASTELLS, M. A Sociedade em Rede. Editora Paz e Terra, São Paulo, 1999.
CAVALCANTI, M. Seminário: A Sociedade do Conhecimento e a Política Industrial Brasileira. Centro de Referência em Inteligência Empresarial CRIE-COPPE/UFRJ, Rio